Desabei a chorar. Não entendo essa mistura de sentimentos enlouquecedores que sempre dominou o meu caminho. Como as lembranças são tão presentes e ao mesmo tempo tão ausentes? Uma mistura de fragilidade e sonhos. Enérgica, robusta e poderosa. Um sentimentalismo rodeado de equilíbrio. Descobri que chorar faz parte de mim! Eu choro quando tudo está certo ou quando você vai embora. Até consigo chorar de tanta felicidade! Durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente, ou ser diferente do que quero e pretendo ser. E então sinto uma facada no estômago e uma tristeza que remói lá no fundo. Sou assim, simpatize ou não. Consigo ser ardente ao extremo, porém é durável somente por pouco tempo. Sou caprichosa, meu capricho incomoda. Melancolia, melancolia e mais melancolia. Sou impulsiva e mutável, corro atrás dos meus sonhos, porém não penso duas vezes, e então novamente passo rápido da alegria a melancolia. A perfeição é possível? Penso que sim, meu choro é tão perfeito! Mas logo vejo que não, chega a ser tão perfeito que desgasta por dentro, e caio em contradição. Meu choro é um momento e às vezes uma vida inteira. Ele não é esperado, mas bem lá no fundo quando não sai, faz falta e acaba sendo desejado. É um beijo de momento ou um amor de uma vida inteira. Meu choro dura muito e às vezes não dura nada. É o que sou, ou que não sou. É o que quero ver ou penso que sim, mas no fundo não. Meu choro não é ensaiado e sim improvisado, é doce mas ao mesmo tempo muito amargo. É quase perfeito, pois perfeito é tudo aquilo que nos faz bem e que sem saber o porquê, a gente reconhece na hora. Não sou dona do mundo e nem de ninguém, mas conservo o que faz bem, o incrível, o abstrato. É difícil aceitar toda essa simplicidade do sentimento, a simplicidade do chorar e do ser emotivo. Descobri que chorar faz bem para a alma e que são nestes momentos que descubro quem sou, onde estou e aonde quero chegar, mas ao mesmo tempo percebo que tudo ou nada faz sentido. Diga-me, alguma vez já te sentiste assim? Uma música revive aquele momento; uma poesia lembra alguém. Eu já vivi, já senti e não me esqueci. Por isso choro. Choro por ser sensível ao extremo e por demonstrar tanta firmeza que a minha delicadeza não se sobressai, meu coração não é duro feito pedra. Por isso, eu rio, pulo, canto e grito, e no final choro. Não para tentar entender, mas sim por apenas sentir, sentir mais uma vez tudo que eu nunca esqueci e não consigo viver novamente. Sinto falta do mistério, mas por vezes sinto falta de compreender por qual motivo estou chorando mais uma vez...
"Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia."
Vinícius de Moraes