domingo, 18 de julho de 2010

Pedaço vazio dentro de mim

Sinto que me falta algo. Acordei com o bem-te-vi cantando, ele queria me mostrar o quão és livre. Não sou livre, queria ser. Um pedaço dentro de mim quer gritar! Estou confusa com o vazio, não permaneço mais em mim, sou apenas um fragmento de tudo quem um dia fui. Não sou livre, sempre me impus condições, vivi dentro de meus limites. Na vida pura não existem limites, o que colocamos são reflexos do medo que interiorizamos, para não questionarmos nossas fraquezas e nos limitarmos a elas. Descobri-me e então me perdi; tentei me libertar de mim mesma, queria a qualquer custo me laçar na liberdade, tentativa frustrada. Libertei o intenso e hoje sou uma alma de puro tédio. Não sei quem fui, hoje sou uma imaginação que obtenho. Sinto um pedaço vazio dentro de mim e hoje este pedaço se intensificou, foi um martírio esperar essa sensação ir embora. Ela não vai embora, apenas espera a hora certa de voltar. Vejo-me transformada e mutilada. Preciso pular etapas, preciso camuflar o que ficou para trás para dar conta de mudar o que está por vir. Grande lição! Libertar-me do que estou sentindo, para enfim poder ser livre. Mistura de vida e morte, doce e amargo, medo e coragem. É o mais sensato que sobrou da minha essência, é tudo o que tenho para combater essa caminhada. Este vazio se esvaira e contamina todos que se aproximam, não conheço o seu antídoto, não me interesso em saber. O trabalho, deixo para depois. Preciso, apenas, me libertar! Encontrar o esconderijo do meu verdadeiro ser, para então, meus olhos voltarem a brilhar, minha cabeça não se torturar e o meu coração parar de chorar.

“O grande vazio em mim será o meu lugar de existir; minha pobreza extrema será uma grande vontade. Tenho que me violentar até não ter nada, e precisar de tudo; quando eu precisar, então eu terei, porque sei que é de justiça dar mais a quem pede mais, minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é a minha medida.”
Clarice Lispector

terça-feira, 6 de julho de 2010

Queria poder te falar...

Odeio o seu orgulho infantil e o modo como você brinca quando digo a verdade. Odeio o quanto me deixa sem graça e parece ter penetrado em minha mente. Odeio o modo que me analisa e interpreta o meu ser. Odeio quando você me da a razão e mais ainda quando diz não. Odeio quando diz que o meu sorriso é delicado e os meus olhos graciosos. Odeio quando você fica e mais ainda quando vai embora. Odeio quando me da vontade de chorar e você vem me consolar. Odeio ter que ficar, e mais ainda quando penso em ir embora. Odeio querer você cada vez mais perto de mim. Mas odeio principalmente não conseguir te odiar, nem por um instante. Odeio não conseguir ficar sem você e mais ainda por só saber te amar. Em minha mente eu te odeio e o meu coração é todo seu. Não posso viver assim, não consigo! Queria você bem longe. Mas me odeio por pensar assim. Cresci, vivi, arrisquei! Não posso prever o futuro, não posso viver nessa prisão; mas não posso viver sem ti. Quero voar, nada mais do que isso. Eu cresci, me encontrei e ao mesmo tempo me perdi. É como um espirro que não consegue dar, precisa dar mas não consegue. Não é fácil falar, então me resta escrever. Cartas... não entregarei para você. Tudo é tão bonito! Olhares entusiasmados e a saudade forte dentro do peito. Exigiu muito aprendizado e maturidade. Me tornei tão dependente e quando acordei meu coração já tinha se preenchido completamente de amor. O seu sorriso encantador, a ternura e a cautela imensa que você tem. E hoje, se resume em dor. Tudo se mistura. É impressionante como de repente nada mais faz sentido, e percebe-se que esforçamos ao máximo, chegamos ao limite. As brigas me corroem por dentro, parece que me banho em um mar de sangue. Quando a dor aparece, é intensa. Não posso viver mais assim, não consigo! Mas por que não consigo reverter? Por que dói lá no fundo só em pensar assim? Olha, a que ponto cheguei...

"Odeio como amo o ódio. Não conheço outras razões para amar senão odiar. Que queres que te diga, além de que te odeio, se o que quero dizer-te é que te adoro?"
Fernando Pessoa